"Manuel Alegre denunciou o PEC, que mais uma vez vai atirar o peso da crise para os alvos habituais. Fez bem, mas omitiu o essencial.
O PEC é a factura que vamos pagar por anos e anos de saque organizado e contínuo dos recursos públicos, por uma vasta quadrilha pluripartidária que vive de comissões, subornos e tráfico de influências. As derrapagens, sempre as derrapagens…
Tudo isto é velho e tem raízes fundas. Não podemos é deixar de recordar a responsabilidade que este Governo e este PS têm no agravamento da situação.
Começaram por pôr Alberto Costa na Justiça. Nomearam Ricardo Rodrigues para porta-voz nesta área. Conseguiram tornar ainda mais labiríntico o Código do Processo Penal. Deram todos os sinais ao mercado da economia paralela de que os ventos eram de feição.
Guardar um respeitoso silêncio nesta matéria não é hipocrisia, é cumplicidade activa. Atacar o PEC (e o economicismo, um conceito tão vazio como a cabeça dos que o utilizam) é fácil. Mas não chega.
A principal razão dos ataques de João Cravinho à corrupção é a percepção que este tem há muito de que, com este nível de esbulho de dinheiros, a corrupção no sector público torna totalmente insustentável qualquer ideia de que este possa ter um papel na economia, se não determinante, pelo menos complementar.
Para o Bloco de Esquerda, estas questões são secundárias. O capitalismo é a própria expressão encarnada da corrupção e das malfeitorias. Contudo,se pensarmos de forma diferente, nenhum candidato que queira assumir de forma séria os reais problemas do país e que não aceite facilmente os trinta dinheiros que compram tudo e todos não pode enfiar a cabeça na areia e fingir que a corrupção, ao nível que atingiu, é apenas mais um dosproblemas do país.
Um candidato sério tem que ter o saque da república no centro da sua agenda política. Tem que ter coragem para enfrentar aquela frente tão difusa como bem estruturada que consegue fazer da corrupção uma questão sobre a qual se desliza sem grande atrito e sem consequências pode eventualmente abordar-se o tema, mas rapidamente o discurso desliza dessa para outras questões.
Corremos o risco trágico de ter candidatos a atirar impropérios à ganância dos especuladores internacionais, mantendo um silêncio cúmplice sobre os métodos de gestão da coisa pública que nos deixaram indefesos e impotentes nas suas mãos.
Sabemos que o problema tem as mais variadas faces. Podemos mesmo esperar que da Comissão de Acompanhamento da AR saiam algumas propostas consensuais. Aprová-las será para alguns membros da mesma Comissão, não o proverbial ingurgitamento de sapos, mas de tartarugas.
Ficar calado, refugiar-se em minúcias técnicas, andar de braço dado comos fautores públicos e notórios da corrupção tem que ter um preço. E esse preço é a assunção pública e expressa de que se trata de um candidato de um regime apodrecido. Por isso, para Alegre a opção é clara: ou procura o apoio das quadrilhas que nos roubam impunemente, ou guarda um silêncio cúmplice e envergonhado a troco de meia dúzia de votos, ou toma sobre a corrupção uma posição digna e inequívoca."
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