Os inúmeros traços que nos caracterizam conseguem ser deveras surpreendentes, tanto para o bem como para o mal. Não falo do lado “Darth Vader” da espécie, mas no que costumo chamar de “humor escondido” do ser humano. Digo escondido porque me refiro aquele humor que surge espontaneamente em certas situações, nas quais as pessoas têm todas as intenções, menos ter graça.
Claro que o que em uns suscita gargalhada noutros pode suscitar emoções ou sentimentos bem opostos, mas eu tenho uma certa “facilidade” em encontrar o “humor escondido” nas mais variadíssimas ocasiões. Penso ser uma pessoa de bons valores e conduta, mas devo mesmo confessar que já me encontrei várias vezes a rir sem conseguir parar, no meio de pessoas com o semblante bastante carregado. Não é desrespeito, é simplesmente uma forma de ver as coisas que já nasceu comigo e foi herdado genéticamente, segundo relatos dos meus antepassados.
Para se ver o “humor escondido” basta despirmo-nos de grandes análises e ter uma postura soft perante certas situações, ou seja, não levar tudo para o laboratório de análise da moral e bons costumes. Não se deve generalizar nem render a exageros, há que ter em atenção possíveis consequências adversas, mas apenas digo que o dia-a-dia pode ser muito menos adverso se déssemos uma hipotese a este tipo de humor. Vá, dispam-se (não literalmente que já está frescote) e partilhem por breves instantes o “humor escondido” num dos bairros do “reino da Odivelix”:
Estava eu a abrir o portão do escritório onde trabalho e vem a D. Primeira (nome ficticio claro) e cumprimenta-me à bela moda do antigamente, duas beijocas e um apertar de bochechas. Pergunta como estou e revela-me que a sua dor na perna direita tem piorado, as dores de cabeça não a largam, o marido está cada vez mais “enrezinado” e o filho está a ter problemas conjugais. A conversa vai avançando, num estilo mais de monólogo, eu com um pé para a D. Primeira e um pé para o trabalho vejo a mesma desviar-se para o assunto que, na realidade, queria partilhar comigo, quiçá com o mundo: a vizinha da casa da rua ao lado da sua alugou um quarto a outra senhora. Depois segue-se o silêncio e um olhar de expectativa misturado com cumplicidade, que me gritava por uma resposta do tipo: “Ai simmmmm?”. Só lhe consegui devolver um “Hum”. Não era o ideal mas ao menos havia a possibilidade que eu podesse estar receptiva ao acrescento que foi: “o quarto é mesmo dentro da casa dela, não é fora”. “Ah”, foi a única coisa que o meu cérebro a funcionar a todo o gás conseguiu que a minha boca emitisse (mas com um sorriso nos lábios, o que me deve ter dado mesmo aquele ar de parva total). Como que uma dádiva divina vejo aproximar-se a D. Segunda (nome também ficticio como já devem ter percebido) que me forneceu mais um apertão e me deixou a cara completamente rosada. Como que por magia, talvez por não ter obtido o feedback desejado, a D. Primeira dirigiu as suas constatações para a D. Segunda, o que me deu a chance de fuga, não sem antes notar que a D.Segunda estava em total sintonia com as intenções da D.Primeira e se tornou numa substituição muito apreciada da minha pessoa. Gente mais experiente que eu, está visto.
Lá fui trabalhar, que os meus dias de reforma parecem uma miragem, senão uma verdadeira utopia, e passado 4 horas quando voltei ao exterior, uma D. Terceira (e esta até nem falo habitualmente) sentiu o impulso de me contar que uma tal de D. Quarta mantém uma estranha ligação com uma inquilina nova. O meu habitual “Desde que não prejudique ninguém…” foi fulminado com um olhar que me indicou que não tem graça nenhuma ter-me com interlocutora, mandando-me ir passear com um educado “ah ta bem” e um “gosto em vê-la, cumprimentos á familia”.
Ao que percebi, todo o bairro já sabia que a D. Quarta tinha uma inquelina. Entre a ida ao marco do correio, passando pelo café e chegando à minha viatura, apercebi-me que haviam então três possíveis cenários que geravam o busilis da questão: a D. Quarta albergava a namorada do filho, que anda com todas e provavelmente a D. Quinta (a inquelina) até já deve ter um rebento a caminho, a D. Quinta é mas é amante do Sr. Quarto e a coisa ainda é mais cabeluda do que parece, ou a D. Quinta é uma prima da D. Quarta que foi deixada pelo marido e a quem a D. Quarta deu abrigo até a D. Quinta se voltar a orientar na vida.
Claro que o que em uns suscita gargalhada noutros pode suscitar emoções ou sentimentos bem opostos, mas eu tenho uma certa “facilidade” em encontrar o “humor escondido” nas mais variadíssimas ocasiões. Penso ser uma pessoa de bons valores e conduta, mas devo mesmo confessar que já me encontrei várias vezes a rir sem conseguir parar, no meio de pessoas com o semblante bastante carregado. Não é desrespeito, é simplesmente uma forma de ver as coisas que já nasceu comigo e foi herdado genéticamente, segundo relatos dos meus antepassados.
Para se ver o “humor escondido” basta despirmo-nos de grandes análises e ter uma postura soft perante certas situações, ou seja, não levar tudo para o laboratório de análise da moral e bons costumes. Não se deve generalizar nem render a exageros, há que ter em atenção possíveis consequências adversas, mas apenas digo que o dia-a-dia pode ser muito menos adverso se déssemos uma hipotese a este tipo de humor. Vá, dispam-se (não literalmente que já está frescote) e partilhem por breves instantes o “humor escondido” num dos bairros do “reino da Odivelix”:
Estava eu a abrir o portão do escritório onde trabalho e vem a D. Primeira (nome ficticio claro) e cumprimenta-me à bela moda do antigamente, duas beijocas e um apertar de bochechas. Pergunta como estou e revela-me que a sua dor na perna direita tem piorado, as dores de cabeça não a largam, o marido está cada vez mais “enrezinado” e o filho está a ter problemas conjugais. A conversa vai avançando, num estilo mais de monólogo, eu com um pé para a D. Primeira e um pé para o trabalho vejo a mesma desviar-se para o assunto que, na realidade, queria partilhar comigo, quiçá com o mundo: a vizinha da casa da rua ao lado da sua alugou um quarto a outra senhora. Depois segue-se o silêncio e um olhar de expectativa misturado com cumplicidade, que me gritava por uma resposta do tipo: “Ai simmmmm?”. Só lhe consegui devolver um “Hum”. Não era o ideal mas ao menos havia a possibilidade que eu podesse estar receptiva ao acrescento que foi: “o quarto é mesmo dentro da casa dela, não é fora”. “Ah”, foi a única coisa que o meu cérebro a funcionar a todo o gás conseguiu que a minha boca emitisse (mas com um sorriso nos lábios, o que me deve ter dado mesmo aquele ar de parva total). Como que uma dádiva divina vejo aproximar-se a D. Segunda (nome também ficticio como já devem ter percebido) que me forneceu mais um apertão e me deixou a cara completamente rosada. Como que por magia, talvez por não ter obtido o feedback desejado, a D. Primeira dirigiu as suas constatações para a D. Segunda, o que me deu a chance de fuga, não sem antes notar que a D.Segunda estava em total sintonia com as intenções da D.Primeira e se tornou numa substituição muito apreciada da minha pessoa. Gente mais experiente que eu, está visto.
Lá fui trabalhar, que os meus dias de reforma parecem uma miragem, senão uma verdadeira utopia, e passado 4 horas quando voltei ao exterior, uma D. Terceira (e esta até nem falo habitualmente) sentiu o impulso de me contar que uma tal de D. Quarta mantém uma estranha ligação com uma inquilina nova. O meu habitual “Desde que não prejudique ninguém…” foi fulminado com um olhar que me indicou que não tem graça nenhuma ter-me com interlocutora, mandando-me ir passear com um educado “ah ta bem” e um “gosto em vê-la, cumprimentos á familia”.
Ao que percebi, todo o bairro já sabia que a D. Quarta tinha uma inquelina. Entre a ida ao marco do correio, passando pelo café e chegando à minha viatura, apercebi-me que haviam então três possíveis cenários que geravam o busilis da questão: a D. Quarta albergava a namorada do filho, que anda com todas e provavelmente a D. Quinta (a inquelina) até já deve ter um rebento a caminho, a D. Quinta é mas é amante do Sr. Quarto e a coisa ainda é mais cabeluda do que parece, ou a D. Quinta é uma prima da D. Quarta que foi deixada pelo marido e a quem a D. Quarta deu abrigo até a D. Quinta se voltar a orientar na vida.
Desconheço os fundamentos que levaram a estas construções de factos da vida alheia, mas o mais caricato é que nem uma só vez fiz qualquer pergunta sobre o assunto a quem quer que fosse e acabei por ser espectadora desta demosntração de imaginação colectiva. Boatos e "cusquices" são condutas feias, eu sei, mas continuo a afirmar que temos de olhar para o “humor escondido” das situações para levarmos a vida um pouco menos a sério e poder desfrutá-la como o grande dádiva que é.
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